Recentemente, em uma visita à Livraria da Rua, na região da Savassi em Belo Horizonte, me deparei com um livro que tinha um título daqueles que chamam bastante atenção: "A fábrica de cretinos digitais. Os perigos das telas para nossas crianças", de Michel Desmurget. O livro não é tão recente, foi lançado em 2019.
Michel é um pesquisador francês e diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França. Ele atua em duas universidades – norte-americanas – MIT e Emory –, suas pesquisas concentram-se nos efeitos nocivos da TV e de fórmulas mágicas para emagrecer –, ou seja, assuntos de utilidade pública.
Um ponto interessante do livro é que ao buscar as referências bibliográficas para conhecer quais foram seus trajetos teóricos me surpreendi com as 67 páginas (283 - 350) de referências que vão da psicologia, pediatria e ciências sociais ao comportamento humano. Isso dá para o leitor a possibilidade de buscar na fonte a pesquisa trazida por autores de outros textos.
No primeiro capítulo do livro, Desmurget não poupa críticas aos jornalistas que propagam notícias sem uma checagem mais profunda. Mas suas alfinetadas não se limitam aos profissionais de imprensa. Ele também critica parte da comunidade científica que muitas vezes reverbera certas expressões como a bem conhecida nativos digitais – termo que foi tema do livro do pesquisador Alejandro Piscitelli (2009). A crença também de que os videogames aumentam o cérebro é, segundo o autor, outra mentira que se propaga ao montes.
O autor contesta que os nativos digitais são mais inteligentes por dominarem as ferramentas digitais e os gadgets. Ele chama isso de utilizações recreativas e pouco profundas. "Imersas no digital, estas teriam adquirido um grau de domínio que não será jamais acessível para os fósseis das eras pré-digitais. Bela lenda“, e o pesquisador continua sua indignação quando cita um relatório da Comissão Europeia que aponta que esses jovens sofrem para dominar as competências de informática mais rudimentares.
Criticar a internet e os jovens digitais não é novidade no mundo. Andrew Keen lançou há mais de 10 anos o livro O Culto do Amador e posteriormente Vertigem Digital em 2012. Em ambos os livros ele tece críticas ácidas sobre as novas gerações, em especial as nascidas já na era digital a partir da geração Y.
Recente pesquisa realizada pela Universidade Aberta da Catalunha (UOC) e publicada por veículos de imprensa como Tecnoblog, BBC e vários outros veículos, aborda o fato de que jogar videogame na infância pode melhorar a memória quando o jogador fica adulto, além do impacto positivo do videogame na atenção dos jovens. Isso vai contra o que o pesquisador Michel Desmurget apresenta em seu livro. São centenas de páginas para reforçar que o uso excessivo de telas reduz o desempenho escolar e a concentração. O aumento do cérebro, segundo o autor, nada tem a ver com o aumento da inteligência ou algo do tipo.
O certo é que o consumo de telas já se tornou parte do nosso cotidiano e retirar os celulares e aplicativos do nosso cotidiano parece, de certa forma, utópico. Porém, como tudo na vida, o equilíbrio é fundamental. Saber usar e saber também realizar atividades offline é um caminho mais sensato para manter a saúde do nosso cérebro. Desmurget acredita que o consumo digital recreativo das jovens gerações não é apenas "excessivo“ ou "exagerado“; ele é extravagante e está fora de controle. Você concorda?
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